domingo, 15 de janeiro de 2012

Poema à mãe de Eugénio de Andrade




No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.


Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...

Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

A poesia anda na Escola

EUGÉNIO DE ANDRADE
(1923 – 2005)

Pseudónimo de José Fontinhas, Eugénio de Andrade nasceu em 19 de Janeiro de 1923 em Póvoa de Atalaia, Fundão, no seio de uma família de camponeses. A sua infância foi passada com a mãe, na sua aldeia natal. Mais tarde, prosseguindo os estudos, foi para Castelo Branco, Lisboa e Coimbra, onde residiu entre 1939 e 1945. Em 1947 entrou para a Inspecção Administrativa dos Serviços Médico-Sociais, em Lisboa. Em 1950 foi transferido para o Porto, onde fixou residência.•
Abandonou a ideia de um curso de Filosofia para se dedicar à poesia e à escrita, actividades pelas quais demonstrou desde cedo profundo interesse, a partir da descoberta de trabalhos de Guerra Junqueiro e António Botto. Camilo Pessanha constituiu outra forte influência do jovem poeta Eugénio de Andrade.
Embora não se integre em nenhum dos movimentos literários que lhe são contemporâneos, não os ignorou, mostrando-se solidário com as suas propostas teóricas e colaborando nas revistas a eles ligadas, como Cadernos de Poesia; Vértice; Seara Nova; Sísifo; Gazeta Musical e de Todas as Artes; Colóquio, Revista de Artes e Letras; O Tempo e o Modo e Cadernos de Literatura, entre outras.•
A sua poesia caracteriza-se pela importância dada à palavra, quer no seu valor imagético, quer rítmico, sendo a musicalidade um dos aspectos mais marcantes da poética de Eugénio de Andrade, aproximando-a do lirismo primitivo da poesia galego-portuguesa ou, mais recentemente, do simbolismo de Camilo Pessanha.
O tema central da sua poesia é a figuração do Homem, não apenas do eu individual, integrado num colectivo, com o qual se harmoniza (terra, campo, natureza - lugar de encontro) ou luta (cidade - lugar de opressão, de conflito, de morte, contra os quais se levanta a escrita combativa).
A figuração do tempo é, assim, igualmente essencial na poesia de Eugénio de Andrade, em que os dois ciclos, o do tempo e o do Homem, são inseparáveis, como o comprova, por exemplo, o paralelismo entre as idades do homem e as estações do ano. A evocação da infância, em que é notória a presença da figura materna e a ligação com os elementos naturais, surge ligada a uma visão eufórica do tempo, sentido sempre, no entanto, retrospectivamente. A essa euforia contrapõe-se o sentimento doloroso provocado pelo envelhecimento, pela consciência da aproximação da morte (assumido sobretudo a partir de Limiar dos Pássaros), contra o qual só o refúgio na reconstituição do passado feliz ou a assunção do envelhecimento, ou seja, a escrita, surge como superação possível. Ligada à adolescência e à idade madura, a sua poesia caracteriza-se pela presença dos temas do erotismo e da natureza, assumindo-se o autor como o «poeta do corpo». Os seus poemas, geralmente curtos, mas de grande densidade, e aparentemente simples, privilegiam a evocação da energia física, material, a plenitude da vida e dos sentidos.
Foi galardoado com o Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores, atribuído a O Outro Nome da Terra (1988), e com o Prémio de Poesia Jean Malrieu, por Branco no Branco (1984). Recebeu ainda, em 1996, o Prémio Europeu de Poesia. Foi criada, no Porto, uma fundação com o seu nome.


OBRA

Poesia
"Adolescente". Lisboa, ed.do Autor, 1942.
"Pureza". Lisboa, Livraria Francesa, 1945.
"As Mãos e os Frutos".Lisboa, Portugália, 1948.
"Os Amantes sem Dinheiro". Lisboa, Centro Bibliográfico, 1950.
"As Palavras Interditas". Lisboa, Centro Bibliográfico, 1951.
"Até Amanhã". Lisboa, Guimarães Editores, 1956.
"Coração do Dia". Lisboa, Iniciativas Editoriais, 1958.
"Mar de Setembro".1961.
"Ostinato Rigore". Lisboa, Guimarães Editores, 1964.
"Obscuro Domínio". Porto, Editorial Inova, 1971.
"Véspera da Água". Porto, Editorial Inova, 1973.
"Escrita da Terra e Outros Epitáfios". Porto, Editorial Inova, 1974.
"Limiar dos Pássaros". Porto, Limiar, 1976
"Memória Doutro Rio". Porto, Limiar, 1978.
"Matéria Solar". Porto, Limiar, 1980
"O Peso da Sombra". Porto, Limiar, 1982.
"Branco no Branco". Porto, Limiar, 1984.
"Aquela Nuvem e Outras". Porto, Edições Asa, 1986.
"Contra a Obscuridade". Lisboa, Círculo de Leitores.
"Vertentes do Olhar". Porto, Limiar, 1987.
"O Outro Nome da Terra".
"Rente ao Dizer"
"Homenagens e Outros Epitáfios"
"Ofício de Paciência"
"Antologia Breve"
"O Sal da Língua". Porto, Fundação Eugénio de Andrade, 1995.


Prosa
"Os Afluentes do Silêncio". Porto, Editorial Inova, 1968.
"História da Égua Branca". Porto, Edições Asa, 1976.
"Rosto Precário". Porto, Limiar, 1979.
"À Sombra da Memória".


In http://lugardaspalavras.no.sapo.pt/poesia/EA/obra_EA.htm









As palavras

São como um cristal,
as palavras.
Algumas, um punhal,
um incêndio.
Outras,
orvalho apenas.

Secretas vêm, cheias de memória.
Inseguras navegam:
barcos ou beijos,
as águas estremecem.

Desamparadas, inocentes,
leves.
Tecidas são de luz
e são a noite.
E mesmo pálidas
verdes paraísos lembram ainda.

Quem as escuta? Quem
as recolhe, assim,
cruéis, desfeitas,
nas suas conchas puras?

Eugénio de Andrade





Os amantes sem dinheiro


Tinham o rosto aberto a quem passava.
Tinham lendas e mitos
e frio no coração.
Tinham jardins onde a lua passeava
de mãos dadas com a água
e um anjo de pedra por irmão.

Tinham como toda a gente
o milagre de cada dia
escorrendo pelos telhados;
e olhos de oiro
onde ardiam
os sonhos mais tresmalhados.

Tinham fome e sede como os bichos,
e silêncio
à roda dos seus passos.
Mas a cada gesto que faziam
um pássaro nascia dos seus dedos
e deslumbrado penetrava nos espaços.

Eugénio de Andrade




Urgentemente


É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

Eugénio de Andrade






As palavras que te envio são interditas


As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade



O poeta do mês

Eugénio de Andrade /1923 - 2005)

O poeta do mês

O mês de Eugénio de Andrade (1923 - 2005)

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Mon opinion à propos de la pub

La publicité, c’est comme une “voix” qui nous emmène à acheter beaucoup de choses qui, souvent, sont inutiles. Les moyens de communication nous manipulent toujours. Nous sommes leurs « marionnettes ». Selon moi, d’un côté, la publicité est un peu trompeuse parce qu’elle montre seulement les avantages des produits publicités. Mais, d’autre côté, la publicité peut aussi choquer et passer de très importants messages. Cependant, je peux affirmer que la publicité fait partie de ma vie et de tout le monde, positivement et négativement.
Cristiana Neto 11èm E2

La Pub

La publicité est une forme de communication, dont le but est de fixer l'attention d’une cible visée (consommateur, utilisateur, usager, électeur, etc.) pour l'inciter à adopter un comportement souhaité : achat d'un produit, élection d'une personnalité politique, incitation à l'économie d'énergie, etc... Evoquer le nom d'une entreprise, d'un magasin, ou autres endroits n'implique pas automatiquement un acte publicitaire. Mais cela le devient à partir du moment où le but volontairement recherché est d'attirer l'attention sur l'objet évoqué et/ou de suggérer d'aller à tel ou tel endroit. in Wikipédi

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

2012


Feliz ano novo!
Joyeuse nouvelle année!
Happy new year!
Próspero año nuevo!
Buon anno!
Frohes neues jahr!

2012